sexta-feira, 5 de junho de 2020

Floyd explica




Há dias (re)publiquei um excerto do perfil social de um Professor da faculdade. O texto, entre outras coisas, dizia que só deveria comentar quem também publicasse o experimento. Segundo consta na rede, como diz Pedro Cardoso, antissocial publicada, possuo 2667 amigos, no entanto, é provável que nessa vida eu não conheça esse número de pessoas.
Pois bem. Dentre os 1,76% que se manifestou, 10% seguiu o que lá estava escrito, ou seja, dos 2667 ‘amigos’ que lá possuo, 0,17% fez uma leitura atenta. Isso remete ao texto que redigi há mais dias, expondo estudos que alertam para a falta de leitura e a consequência disso na empatia.
A empatia, segundo Aurélio Buarque de Holanda, é a “capacidade de identificar-se com o outro”.
Na terça-feira, 2/6/2020, data em que se comemorou 57 anos da abolição da escravatura na Arábia Saudita (Wikipedia), último país a promover o ato, uma criança, negra, de 5 anos, morreu, após sua mãe se descuidar e abandoná-lo para passear com um animal de estimação.
A ressalva é que o descuido foi obrigatório e o animal não era seu. Era de sua empregadora, uma mulher da elite nordestina, loira, que não pôde dispensar dos serviços domésticos sua serviçal, tampouco poderia o pobre cachorro ficar sem sua caminhada diária, só pelo fato de estarmos em meio a uma pandemia.
Pode-se e deve-se culpa a fulana que, sem um pingo de empatia, matou o filho – negro – de sua empregada doméstica – negra. Mas isso não basta. É preciso analisar as origens disso.
Quando essas terras foram invadidas, por volta de 1500, havia cerca de 1 milhão de pessoas aqui vivendo, povos indígenas distribuídos em cerca de, no máximo, 2 mil aldeias (Ribeiro, 1995).
Invadidas, vilipendiadas, lucrou-se, a princípio, sobretudo com a mão-de-obra mais barata e abundante que havia: a negra!
Mantidos como objetos, formalmente, até 1888, o Brasil inventou um novo modelo de estruturação societária, ainda segundo Darcy Ribeiro, com um tipo renovado de escravismo, cuja servidão é continuada.
Ele tinha razão. E continua até hoje.
Sinto pelo desastre do menino Miguel, sinto muito pela mãe e pai dessa criança, mas penso que sinto mais pelas pessoas que normalizaram isso, olhando tudo em 4k, publicando suas hashtags e conferindo quantos passos o cachorrinho andou...

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