terça-feira, 15 de novembro de 2011

Complementos incompletos...

"Os humanos se protegem da perda do ser amado evitando as peripécias e as decepções inerentes ao amor genital e, transformam esse amor num sentimento inibido quanto a sua finalidade, transformando esse amor exclusivo em amor pela humanidade. Mas todo amor que não escolhe, perde o seu valor, pois é injusto em relação ao seu objeto, e depois, porque nem todos os humanos merecem ser amados. Meu amor é algo infinitamente precioso, que eu não tenho o direito de desperdiçar sem prestar contas. Se amo um outro ser, de alguma forma ele tem que merecer. Ele o merece se é tão melhor que eu e me oferece a possibilidade de amar nele meu próprio ideal." (Freud)



Freud diz que já que os homens não podem viver só de amor, vão viver de trabalho e de sociedade também, mas para ele as mulheres seriam anti-civilizatórias porque elas gostariam de manter o ser amado perto delas ao passo que o ser amado quer ir para o mundo.
Por esse depoimento Freud fora taxado de machista e tudo mais possível, mas há a possibilidade de se interpretar essa frase de uma outra forma, com um pouco mais de humor, onde as mulheres adoram discutir a relação e os homens tem vontade de pular da janela cada vez que isso acontece...
Para além dessa imagem caricatural há um fundo de verdade, pois como foi ao longo dos séculos para os homens o laços sociais existiram de diversas formas, fazendo guerra, fazendo exército, vê-se que nem todos eram laços bons, mas para as mulheres não, elas talvez falassem a verdade sobre o amor.
O que Freud quer chamar a atenção é que nem o amor traz a felicidade e que o ser humano é dividido por essa pulsão de vida, que quer fazer laços cada vez mais amplos e por essa pulsão de morte, que faz com que o homem, retomando Hobbes, seja o lobo do homem, no fundo, portanto, há uma agressividade inata no homem, essa agressividade humana está no cerne do desejo e dá prazer ao ser humano, é ela que dá corpo à pulsão de morte a que Freud se referiu, que pode se manifestar de várias formas, na
agressividade contra o próximo, na violência sexual, na exploração do trabalho, exploração política, nas ditaduras, guerras, na violência social. Ela se reflete em tudo aquilo que se repete...

Esse é um trecho de uma palestra sobre a pós-modernidade que refere-se à família pós-moderna, cujo tema é Amor e Liberdade. Nessa palestra tem-se por principal figura Zigmunt Bauman, sociólogo polonês que talvez seja o grande nome dos tempos atuais!
O que mais me chamou atenção nisso tudo foi a parte onde Freud fala sobre o desperdício do amor... "meu amor é algo infinitamente precioso e eu não tenho o direito de desperdiçá-lo sem prestar contas".
A gente vive fazendo isso, né? Primeiro fazendo de uma outra pessoa o seu ideal, o que, em verdade, não depende de nossa razão, é algo que ultrapassa essa fina barreira. Amar o seu próprio ideal em outra pessoa seria bom? Porque daí, vejamos, se esse ideal erra, acaba-se por entrar-se em pane com seu próprio sistema e se você já não gosta tanto de si é porque o ideal não acompanhou tuas mudanças.
Teríamos desperdiçado um tempo formidável de nossas vidas com uma imagem que não era real? Penso que não... se desperdiçamos, e eu não concordo com essa palavra, é porque naquele momento isso nos convinha, de alguma forma isso nos fez bem, nos completou, aliás não, não nos completou pois não somos incompletos (dentro de nossa inexorável necessidade de completude), a palavra correta deve ser complementar, acrescentar.
Cada um complementa sua vida da melhor forma e quanto mais complemento, vivenciando Vinícius de Moraes, melhor é a vida... Já escolheu seu complemento?