terça-feira, 8 de novembro de 2011

I Just Call

Photo: V-J Day in Times Square (Alfred Eisenstaedt) - Para lembrar que a vida é a arte do encontro. Embora haja tanto desencontro pela vida.


Quando recebi o convite para colaborar com esse promissor espaço, animou-me a idea de que seria interessante ter (mais um) espaço onde fosse possível realizar um intercâmbio intelectual. Como o convite partiu de alguém que me conhece intimamente, imagino que meu anfitrião esteja consciente do hóspede que trouxe a sua casa...

Dito isso posso partir para a ação. O mote do momento parece tratar da análise dos relacionamentos afetivos humanos e suas vicissitudes calcadas pela impossibilidade humana em abandonar o que se chamou de egoísmo. Naturalmente o homem como ser mutante que é (mesmo os que não se pensam/vêem assim) se expressa na medida de suas experiências e momentos vividos. Assim sendo, não fujo a essa regra e por isso mesmo imagino que o tom de minhas ilações irá se contrapor aos apresentados por meus companheiros anteriormente.
As relações humanas vêm sofrendo transformações profundas e radicais nos últimos 60 anos (do pós-guerra até os dias atuais). Fixando a discussão apenas nas questões envolvendo a relação pessoal amorosa dos heterossexuais (Homem x Mulher) considero a falta (ou falha) de comunicação entre os parceiros o cerne da problemática encontrada. Nesse sentido discordo um pouco dos apontamentos, muito bem destacados, por meus colegas anteriormente.

Não acredito que esse "egoísmo" seja a causa dos desencontros atuais. Qualquer conclusão que tenha como premissa uma generalização é potencialmente equivocada. Não há dúvidas que todos somos, de alguma forma, mais ou menos egoístas. Mas se naturalizarmos e estendermos "erga omnes" esse egoísmo como sendo um sentimento único, acabaríamos por colocar no mesmo diapasão o indivíduo que pratica o egocentrismo mínimo e necessário para a sobrevivência com aquele que estaciona o carro na vaga de deficiente. Convenhamos que há uma grande distância entre os casos.

Sobre o assunto é necessário dizer que, ainda que sejamos auto-centrados e pouco solidários na vida cotidiana, poucas coisas tornam um indivíduo tão altruísta como o amor. Mesmo que seja por um breve momento, um novo romance é o momento perfeito para que realizemos aquela mudança que tanto tarda por acontecer, ou entrar em contato com aquele lado que você nem sabia ter. Mesmo considerando que o amor é em grande parte ilusão e idealização, não tenho dúvidas que o momento da paixão é mobilizador de intensas transformações do SER.

Para mim a grande dificuldade que o homem pós-moderno encontra nos relacionamentos afetivos começa pela desorientação em sua busca. A maioria dos homens que eu conheço busca pra si primeiramente uma mulher que seja obviamente bonita (ou de beleza óbvia). Um problema recorrente dessa fórmula é que, mulheres assim são geralmente autocentradas, caprichosas e frívolas. Soma-se a isso o fato de que a beleza é de todas as virtudes a mais efêmera e fugaz. Nesse caso em pouco tempo as dificuldades inviabilizam essa relação oriunda de uma percepção superficial da relação.

Outro ponto que ressalto com maior agudez é a falha na comunicação entre o casal gerada principalmente pela falta de clareza dos objetivos e das possibilidades dessa união. Isso se deve em grande parte devido a falta de honestidade com que as pessoas habituaram-se a agir. A ética na sociedade atual possui uma lógica mercantil que muitos indivíduos (a maioria) levam para dentro de suas relações pessoais (família, amigos, romances etc), sem considerar que nem sempre é possível realizar cortes, ou remanejamentos na vida afetiva. Aparentemente um amor bem sucedido é aquele em que todos os envolvidos se conhecem a ponto de reconhecer suas qualidades e suportarem seus defeitos.

Independente de crença, raça ou cultura todos os seres humanos querem ser amados. Mas quantos de nós está disposto a despir-se de suas máscaras ousando ser si mesmo diante do outro? Queremos algo que nós mesmos somos incapazes de dar.

Muitos são os aspectos que envolvem esta, que deve ser uma das mais antigas questões humanas. Portanto tanto seria impossível tratar do assunto sem ser superficial ou reducionista. Afinal em matéria de AMOR todos somos e sempre seremos eternamente aprendizes...

SENTIMENTO ALHEIO - PARTE II


Você está ficando afiado, caro "Nós".
Acontece que a descartabilidade, no sentido que você coloca, me parece ter mais relação com a forma de cada pessoa lidar com seus sentimentos, do que pelo conceito ordinário aplicado à espécie.
Ora, "deixar um pouco de si e levar um pouquinho de nós" exprime rigorosamente a mesma ideia de "deixar um pouco e levar um tanto". Se são apenas PARTES que vão e que vem, uma base sempre ficará - agora, se esta base é conceito ou essência, é só uma questão de nomenclatura.
Nesse sentido, o julgamento que fazemos acerca da descartabilidade, nada mais é que uma forma reducionista de constatarmos como uma pessoa lidou (aproveitando o caso citado) com a ruptura de um relacionamento, envolvendo-se, daí, inúmeras questões empíricas e existenciais – tantas que serviriam de base para uma só postagem.
E também em função deste fenômeno que concordo com o restante do texto, que, por sinal, de profundo conteúdo.
Nossos parâmetros de melhor e pior, de fato, não são universais - sendo mais claro, não podemos considerar a possibilidade de padrões “erga omnes”, sob pena de cairmos em dogmáticas que, notoriamente, restringem o pensamento humano.
Por sua vez, em relação ao egoísmo, de fato, talvez seja a mais marcante característica do ser humano – mas isso não quer dizer que sejamos todos vis. O egoísmo humano vai além da aplicação hodierna a ele depositada. O egoísmo, essencialmente, advém da questão de que TODAS as nossas ações são baseadas nos nossos interesses. Não sou um leitor de Nietzsche - na verdade, nunca li uma linha oriunda de um livro seu, porém, há algumas semanas assisti um Café Filosófico que, dentre outros assuntos, abordava o fato de que, tanto para ele quanto para Spinosa, a ação desinteressada não existe. Nas palavras do filósofo alemão, “existem ações interessadas interesseiras e ações interessadas não interesseiras, mas sempre existe o interesse”. Intimamente ligados (egoísmo e interesse), num primeiro momento relutei em aceitar esta (dura) realidade. No entanto, despindo-os de suas cargas negativas, aceitei o fato. Como brilhantemente cantou Raul e oportunamente lembrou “Nós”, o egoísmo, por vezes, nos faz agir de forma solidária – mas esta ação solidária não é a válvula propulsora do ato, mas sim, o fim obtido com ele, único e exclusivamente realizado para satisfazer um interesse.
Dessa forma, não sei se triste, mas tenho pra mim a constatação de que o respeito pelo sentimento alheio existe apenas enquanto nossos interesses convergem-se.

Sentimento alheio? OK!

(Tenho tanto sentimento)

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa - Cancioneiro- 18/09/1933




Meu old, velho, cricket, incitou-me a escrever sobre esse assunto, qual seja, "a praticidade com o sentimento alheio". É certo que o mais novo integrante desse blog, meu irmão Zarageist, vai querer impor razões pela foto e tudo mais, creiam, leitores, essa foto só expressa a mais pura essência que há no mote em questão.
Pois bem, vejamos, ao entrar na vida de alguém, em 100% das vezes não nos ligamos com o que estamos movendo do outro lado, é claro que sempre buscamos mover para o melhor lado possível, no entanto, o parâmetro que se tem de melhor ou pior lado é aquilo que a vida nos deu, ou seja, buscamos dar o melhor de nós mesmos para conseguirmos fazer a outra metade, por assim dizer, feliz!
No final das contas o que vale é que todos, absolutamente todos os seres humanos são sujeitos egoístas, que ainda que se julguem altruístas, não o são, nos dizeres de Raulzito, para o qual 'o meu egoísmo é tão egoísta que o alvo do meu egoismo é querer ajudar', rá rá, esse sim tinha o conceito correto de egoísmo e da vida em torno do umbigo...
Retomando: Nós só fazemos aquilo que nos é bom, é a velha lei do custo-benefício, caso não nos interesse, uns mais facilmente, outros com um pouco mais de dificuldade, mas caso de fato não mais nos interesse, bye bye...
E é assim que nos envolvemos com o sentimento alheio, unicamente, no final de tudo, buscando a ajudar a nós próprios.
As pessoas não são descartáveis, é até um clichê dizer que cada um que passa em nossas vidas não sai sozinho, deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós, mas é exatamente isso. Nós não podemos e não temos o direito, por mais fácil e simples que seja, de mexer na gavetinha de sentimentos das pessoas, um dia pode ser a nossa, e ninguém é embalado à vácuo, não é mesmo?
Por uma outra leitura poder-se-ia dizer que sim: as pessoas são descartáveis! Deixam um pouco, levam um tanto, mas a base fica, alguns a chamam de essência, essa história vai longe...