terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sentimento alheio? OK!

(Tenho tanto sentimento)

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa - Cancioneiro- 18/09/1933




Meu old, velho, cricket, incitou-me a escrever sobre esse assunto, qual seja, "a praticidade com o sentimento alheio". É certo que o mais novo integrante desse blog, meu irmão Zarageist, vai querer impor razões pela foto e tudo mais, creiam, leitores, essa foto só expressa a mais pura essência que há no mote em questão.
Pois bem, vejamos, ao entrar na vida de alguém, em 100% das vezes não nos ligamos com o que estamos movendo do outro lado, é claro que sempre buscamos mover para o melhor lado possível, no entanto, o parâmetro que se tem de melhor ou pior lado é aquilo que a vida nos deu, ou seja, buscamos dar o melhor de nós mesmos para conseguirmos fazer a outra metade, por assim dizer, feliz!
No final das contas o que vale é que todos, absolutamente todos os seres humanos são sujeitos egoístas, que ainda que se julguem altruístas, não o são, nos dizeres de Raulzito, para o qual 'o meu egoísmo é tão egoísta que o alvo do meu egoismo é querer ajudar', rá rá, esse sim tinha o conceito correto de egoísmo e da vida em torno do umbigo...
Retomando: Nós só fazemos aquilo que nos é bom, é a velha lei do custo-benefício, caso não nos interesse, uns mais facilmente, outros com um pouco mais de dificuldade, mas caso de fato não mais nos interesse, bye bye...
E é assim que nos envolvemos com o sentimento alheio, unicamente, no final de tudo, buscando a ajudar a nós próprios.
As pessoas não são descartáveis, é até um clichê dizer que cada um que passa em nossas vidas não sai sozinho, deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós, mas é exatamente isso. Nós não podemos e não temos o direito, por mais fácil e simples que seja, de mexer na gavetinha de sentimentos das pessoas, um dia pode ser a nossa, e ninguém é embalado à vácuo, não é mesmo?
Por uma outra leitura poder-se-ia dizer que sim: as pessoas são descartáveis! Deixam um pouco, levam um tanto, mas a base fica, alguns a chamam de essência, essa história vai longe...

Um comentário:

Old Cricket disse...

Não deu pra comentar. O texto tem tantos aspectos para comentar que tive de postar, para não incorrer no mesmo erro do post "Na Noite Terrível".