terça-feira, 8 de novembro de 2011

SENTIMENTO ALHEIO - PARTE II


Você está ficando afiado, caro "Nós".
Acontece que a descartabilidade, no sentido que você coloca, me parece ter mais relação com a forma de cada pessoa lidar com seus sentimentos, do que pelo conceito ordinário aplicado à espécie.
Ora, "deixar um pouco de si e levar um pouquinho de nós" exprime rigorosamente a mesma ideia de "deixar um pouco e levar um tanto". Se são apenas PARTES que vão e que vem, uma base sempre ficará - agora, se esta base é conceito ou essência, é só uma questão de nomenclatura.
Nesse sentido, o julgamento que fazemos acerca da descartabilidade, nada mais é que uma forma reducionista de constatarmos como uma pessoa lidou (aproveitando o caso citado) com a ruptura de um relacionamento, envolvendo-se, daí, inúmeras questões empíricas e existenciais – tantas que serviriam de base para uma só postagem.
E também em função deste fenômeno que concordo com o restante do texto, que, por sinal, de profundo conteúdo.
Nossos parâmetros de melhor e pior, de fato, não são universais - sendo mais claro, não podemos considerar a possibilidade de padrões “erga omnes”, sob pena de cairmos em dogmáticas que, notoriamente, restringem o pensamento humano.
Por sua vez, em relação ao egoísmo, de fato, talvez seja a mais marcante característica do ser humano – mas isso não quer dizer que sejamos todos vis. O egoísmo humano vai além da aplicação hodierna a ele depositada. O egoísmo, essencialmente, advém da questão de que TODAS as nossas ações são baseadas nos nossos interesses. Não sou um leitor de Nietzsche - na verdade, nunca li uma linha oriunda de um livro seu, porém, há algumas semanas assisti um Café Filosófico que, dentre outros assuntos, abordava o fato de que, tanto para ele quanto para Spinosa, a ação desinteressada não existe. Nas palavras do filósofo alemão, “existem ações interessadas interesseiras e ações interessadas não interesseiras, mas sempre existe o interesse”. Intimamente ligados (egoísmo e interesse), num primeiro momento relutei em aceitar esta (dura) realidade. No entanto, despindo-os de suas cargas negativas, aceitei o fato. Como brilhantemente cantou Raul e oportunamente lembrou “Nós”, o egoísmo, por vezes, nos faz agir de forma solidária – mas esta ação solidária não é a válvula propulsora do ato, mas sim, o fim obtido com ele, único e exclusivamente realizado para satisfazer um interesse.
Dessa forma, não sei se triste, mas tenho pra mim a constatação de que o respeito pelo sentimento alheio existe apenas enquanto nossos interesses convergem-se.

2 comentários:

Old Cricket disse...

Diante das inúmeras questões envolvidas, Zarageist poderia dar continuidade ao mote, com um post sobre o assunto.

Nós disse...

Sobre a continuidade, sigo o Relator!
E, acerca do texto, nada há a ser comentado, qualquer palavra a mais infringiria sua perfeição!