quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (1927-1994)

Rua Nascimento Silva, cento e sete
Você ensinando prá Elizete
as canções de canção do amor demais
Lembra que tempo feliz, ai que saudade,
Ipanema era só felicidade
Era como se o amor doesse em paz
Nossa famosa garota nem sabia
A que ponto a cidade turvaria
este Rio de amor que se perdeu
Mesmo a tristeza da gente era mais bela
e além disso se via da janela
Um cantinho de céu e o Redentor
É, meu amigo, só resta uma certeza,
é preciso acabar com essa tristeza
É preciso inventar de novo o amor
Rua Nascimento Silva, cento e sete
Eu saio correndo do pivete
Tentando alcançar o elevador
Minha janela não passa de um quadrado
A gente só vê cimento armado
Onde antes se via o Redentor
É meu amigo só resta uma certeza
É preciso acabar com a natureza
É melhor lotear o nosso amor



É um fato que tenho recebido reclamações de milhares de leitores sobre esses temas EMOs que nós, os autores, estamos produzindo.
Ocorre, no entanto, que ao tentar fugir para outro espaço deparei-me com a triste data de falecimento de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o nosso Tom. Buscando homenageá-lo, então, achei essa música que o não menos genial Vinícius de Moraes fez ao Tonzinho (como o chamava).
Extraio dessa letra a infeliz e já conhecida constatação de que o passado é sempre melhor...
Já foi tema, inclusive, de outros textos deste mesmo blog! Mas é inesgotável esse mote, por ser inesgotável esse sentimento.
Ao olharmos para trás tudo parece um sonho, partes ruins existem, mas tornam-se pequenas, distantes, nós acabamos virando heróis de nossas próprias histórias, sempre dá-se um jeito, arruma-se uma desculpa para que tenhamos agido de determinada forma em certo momento, "não tinha como ser de outra maneira", "era o melhor a ser feito", e então, resolvemo-nos conosco mesmos, uns com álcool, outros com drogas, outros com ajuda profissional, e os que sucumbem na depressão.
Há quem queira viver a vida ao máximo, cada instante, sempre e tudo. Com isso são muitos os arrependimentos que a frente surgem, então busca-se viver mais ainda para não se tenha mais deles no futuro! Quanta ilusão...
O fato do passado ser maravilhoso ou, no mínimo, melhor que o presente é fatalmente um recurso do nosso sub-consciente visando não sei a qual objetivo. Denegrir o presente? Glorificar o passado? Não sei, mas a psicologia deve ter alguma explicação (tentativa) para isso.
A magia está no único instante que pode ser mágico: AGORA! Por mais hedonista que essa "clichética" frase é, ela também é a mais pura realidade, ao menos aos que não têm muitas expectativas para o além-morte. Para esses a vida deve ser muito mais fácil...
Não quero me estender, a única ideia foi lembrar e singelamente homenagear o Maestro mais Brasileiro que tivemos, temos e sempre teremos!!!

3 comentários:

Old Cricket disse...

Caro Nós, a nostalgia é uma armadilha perigosa, chegando a agir, com frequencia, como válvulas propulsoras de frustações e arrependimentos. Certas nostalgias, contudo, são oportunas - como o caso deste Brasileiro homenageado no post, que não nos deixa esquecer a existência de ontens, de fato, muito mais gloriosos que os dias de hoje. Infelizmente.

Fabricio Bonni disse...

É fato que a memória gera muita curiosidade e por isso alguns estudos mais recentes comprovam alguns artifícios mentais pra que essas "fiéis lembranças" não se percam no esquecimento. A substituição de pequenas partes que vão se perdendo ao passar do tempo, por outras recriadas pela mente pra tentar manter de pé aquele fato, mesmo que reconfigurado à nossa maneira, já nos mostra como todo fato passado não possui realidade alguma mais. Quando nos propomos recriar a situação, assumimos o risco de moldar fantasiosamente o fato, de acordo com o nosso interesse emocional.
Me lembra uma imagem em baixa definição que ao tentar se aproximar ela se distorce e surgem somente os quadrados dos pixels. Mas à distancia, no museu da vida, até parece que "foi mesmo assim". Quanto a nostalgia em relação a obra do Maestro, deixa de existir quando perceber que ela é , foi e será atemporal. Porém quanto ao Rio, hoje tem mais milícias, fuzis e Upps do que na saudosa época.

Old Cricket disse...

Preciso, por justiça, retificar meu comentário. Primeiro pq, como bem disse Fabrício Bonni, monstros sagrados como o Tom, nunca serão tratados como algo distante no tempo, dada a excelência de sua obra. Bem por isso, termino a retificação pedindo desculpas aos artistas de hoje, pois, querer o nascimento de Brasileiros como tal, a cada nova geração, é impor um ônus muito pesado a eles.