Até o final
dos anos 90 se houvesse um equívoco e, em vez de “Classe média” se escrevesse “Classe
Médica”, isso não causaria nenhum desconforto aos abnegados doutores.
As
políticas econômicas e sociais feitas a partir do início do novo século, no
entanto, causou furor à elite profissional da saúde. Mas seria muita injustiça
incutir à tão importante classe a exclusividade dessa víscera.
Se
ignorarmos o cume da pirâmide, só a pontinha mesmo, lá onde fica meia dúzia de
gato pingado jogando Polo, golfe, ou algo que o valha, e adotarmos uma
classificação definida a partir de critérios relativos à sociologia do
trabalho, podemos, segundo definição do sociólogo americano Wright Mills,
dividir a sociedade em cinco camadas.
Lá em
cima, curtindo o excelente clima montanhoso, estaria a alta classe média,
composta por médicos, engenheiros, alguns empresários, etc. Logo abaixo, na
ordem, seguiria a média classe média, com o perdão do trocadilho, a baixa
classe média, a massa trabalhadora e, por fim, e sempre por último, os
miseráveis (não os de Victor Hugo, mas assim considerados aqueles que recebem
menos de 1 salário mínimo mensalmente).
A
tabela a seguir é clara na demonstração da alteração de classe, notando-se
expressiva redução dos considerados em condição de miséria e igualmente
expressivo incremento da classificada “baixa classe média”.
É mais
que óbvia a melhoria dos padrões de vida das classes economicamente mais inferiores
e isso se deve à volta do crescimento econômico, aliada às políticas sociais e
de valorização real do salário mínimo.
Nesse
ponto merece destaque o que a mídia, em geral, adotou como foco da cuestão,
atribuindo ora ao Bolsa Família, ora às virtudes neoliberais (sic), as
melhorias ocorridas no período, subvalorizando quaisquer programas
desenvolvidos no governo Lula.
Essa
ênfase midiática, que de modo algum pode ser subjugada, confunde a opinião
pública e faz com que a “nova classe média”, composta por 64% das empregadas
domésticas e 54% de chefes de família de baixíssima escolaridade, comemore essa
“ascensão”.
O
conceito de “nova classe média” foi criado pelo já mencionado W. Mills,
referindo-se à expansão dos empregos de colarinho branco, assim definido em
decorrência das alterações ocupacionais advindas da II Revolução Industrial, e
em nada se confunde com a nossa “antiga” classe C.
Com efeito,
quanto mais desenvolvido o país e melhor sua estrutura ocupacional, melhores
serão os empregos oferecidos, questão fundamental para o desenvolvimento
social.
A análise
do crescimento da classe média, entretanto, não pode ser feito por meio de
dados puramente estatísticos, tampouco – e muito menos – sem a presença de um
Estado forte e atuante, como o da Europa dos Anos Dourados, em que se via a um
só tempo, a busca do pleno emprego e uma ampla estrutura estatal de proteção
social.
Já no
Brasil, essa camada foi criada sob o dinamismo econômico e a profunda
desigualdade social que marcou o período do Milagre Econômico, o que acaba
fazendo com que haja a exploração desses serviços muitíssimo baratos, tornando
a rotina dessa classe, muitas vezes, mais confortável do que a classe média dos
países desenvolvidos.
Nossa
classe C está longe dos padrões e estilos de vida característicos do novo seguimento
social de W. Mills. Composta por auxiliares de escritório, vendedores, garçons,
professores primários, policiais, auxiliares de enfermagem, etc., essa classe
tem carências de toda sorte.
Ou
seja, não se desconhece as melhorias ocorridas nessas classes, mas não se pode,
simplesmente por meio de análise estatística, deduzir a estrutura de classes de
uma sociedade capitalista moderna, há, necessariamente, que se considerar toda
sua constituição histórica.