Photo: V-J Day in Times Square (Alfred Eisenstaedt) - Para lembrar que a vida é a arte do encontro. Embora haja tanto desencontro pela vida.
Quando recebi o convite para colaborar com esse promissor espaço, animou-me a idea de que seria interessante ter (mais um) espaço onde fosse possível realizar um intercâmbio intelectual. Como o convite partiu de alguém que me conhece intimamente, imagino que meu anfitrião esteja consciente do hóspede que trouxe a sua casa...
Dito isso posso partir para a ação. O mote do momento parece tratar da análise dos relacionamentos afetivos humanos e suas vicissitudes calcadas pela impossibilidade humana em abandonar o que se chamou de egoísmo. Naturalmente o homem como ser mutante que é (mesmo os que não se pensam/vêem assim) se expressa na medida de suas experiências e momentos vividos. Assim sendo, não fujo a essa regra e por isso mesmo imagino que o tom de minhas ilações irá se contrapor aos apresentados por meus companheiros anteriormente.
As relações humanas vêm sofrendo transformações profundas e radicais nos últimos 60 anos (do pós-guerra até os dias atuais). Fixando a discussão apenas nas questões envolvendo a relação pessoal amorosa dos heterossexuais (Homem x Mulher) considero a falta (ou falha) de comunicação entre os parceiros o cerne da problemática encontrada. Nesse sentido discordo um pouco dos apontamentos, muito bem destacados, por meus colegas anteriormente.
Não acredito que esse "egoísmo" seja a causa dos desencontros atuais. Qualquer conclusão que tenha como premissa uma generalização é potencialmente equivocada. Não há dúvidas que todos somos, de alguma forma, mais ou menos egoístas. Mas se naturalizarmos e estendermos "erga omnes" esse egoísmo como sendo um sentimento único, acabaríamos por colocar no mesmo diapasão o indivíduo que pratica o egocentrismo mínimo e necessário para a sobrevivência com aquele que estaciona o carro na vaga de deficiente. Convenhamos que há uma grande distância entre os casos.
Sobre o assunto é necessário dizer que, ainda que sejamos auto-centrados e pouco solidários na vida cotidiana, poucas coisas tornam um indivíduo tão altruísta como o amor. Mesmo que seja por um breve momento, um novo romance é o momento perfeito para que realizemos aquela mudança que tanto tarda por acontecer, ou entrar em contato com aquele lado que você nem sabia ter. Mesmo considerando que o amor é em grande parte ilusão e idealização, não tenho dúvidas que o momento da paixão é mobilizador de intensas transformações do SER.
Para mim a grande dificuldade que o homem pós-moderno encontra nos relacionamentos afetivos começa pela desorientação em sua busca. A maioria dos homens que eu conheço busca pra si primeiramente uma mulher que seja obviamente bonita (ou de beleza óbvia). Um problema recorrente dessa fórmula é que, mulheres assim são geralmente autocentradas, caprichosas e frívolas. Soma-se a isso o fato de que a beleza é de todas as virtudes a mais efêmera e fugaz. Nesse caso em pouco tempo as dificuldades inviabilizam essa relação oriunda de uma percepção superficial da relação.
Outro ponto que ressalto com maior agudez é a falha na comunicação entre o casal gerada principalmente pela falta de clareza dos objetivos e das possibilidades dessa união. Isso se deve em grande parte devido a falta de honestidade com que as pessoas habituaram-se a agir. A ética na sociedade atual possui uma lógica mercantil que muitos indivíduos (a maioria) levam para dentro de suas relações pessoais (família, amigos, romances etc), sem considerar que nem sempre é possível realizar cortes, ou remanejamentos na vida afetiva. Aparentemente um amor bem sucedido é aquele em que todos os envolvidos se conhecem a ponto de reconhecer suas qualidades e suportarem seus defeitos.
Independente de crença, raça ou cultura todos os seres humanos querem ser amados. Mas quantos de nós está disposto a despir-se de suas máscaras ousando ser si mesmo diante do outro? Queremos algo que nós mesmos somos incapazes de dar.
Muitos são os aspectos que envolvem esta, que deve ser uma das mais antigas questões humanas. Portanto tanto seria impossível tratar do assunto sem ser superficial ou reducionista. Afinal em matéria de AMOR todos somos e sempre seremos eternamente aprendizes...